Nestes tempos, em que verifica-se a necessidade de reafirmação dos ideais de liberdade, diante das várias faces da injustiça social, publicamos o famoso discurso do pastor batista Martin Luther King, a partir da postagem do professor e pastor Irenilson de Jesus Barbosa, veiculada em seu blog Poiésis do Irê.
"EU TENHO UM SONHO"
Martin Luther King Jr.
Em um dos mais célebres momentos da luta pelos
direitos civis, nos EUA (a marcha de Washington. 28 de agosto,
1963), o meu colega pastor batista e irmão em Cristo, posteriormente
agraciado com o Nobel da Paz (em 1964), Martin Luther King Jr, fez um dos
mais memoráveis discursos já vistos e ouvidos pela humanidade. Uma das grandes
personalidades do século XX, ele organizou e liderou marchas a fim de conseguir
o direito ao voto, o fim da segregação, o fim das discriminações no trabalho e
outros direitos civis básicos, através de uma campanha de não-violência e de
amor para com o próximo. Vale a pena reler e refletir sobre suas inspiradas e
inspiradoras palavras, especialmente dedicadas aos que amam a causa da
liberdade em todas as suas faces. EU também TENHO UM SONHO... depois de ler o
discurso na íntegra, abaixo, confira o vídeo com o áudio original: http://www.youtube.com/watch?v=HbQC9ikiKlI (1ª
parte) e http://www.youtube.com/watch?v=dnQ0RtYffwc (2ª
parte). Você não pode deixar de ver...
"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia
que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na
história de nossa nação.
Cem anos atrás, um grande americano, na qual
estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse
importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de
escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma
alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é
livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas
algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de
pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o
Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em
sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa
condição.
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação
para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as
magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles
estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu
herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens
negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos
inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que
aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta
obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um
cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".
Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da
justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes
de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que
nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da
justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa
cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou
tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as
promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da
segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias
movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o
tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência
desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não
passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de
1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará
contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo
que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de
conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de
injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da
amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de
dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se
degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às
majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e
maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma
desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos
brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o
destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade
deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a
promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há
esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando
vocês estarão satisfeitos?"
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro
for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos
satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem
ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não
estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um
Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós
não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a
retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui
após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas
estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela
liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos
de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem
trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o
Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para
a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas
cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será
mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.
Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós
enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um
sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se
levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos
estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados
iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas
da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos
donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado
de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira
com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas
crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da
pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus
racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de
intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas
negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e
irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será
exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão
aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será
revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que
regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do
desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as
discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com
esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir
encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre.
Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão
cantar com um novo significado.
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te
canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos
peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da
liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se
tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no
extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos
Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas
de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da
Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na
Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de
Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do
Mississipi.
Em todas as montanhas, ouvirei o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitirmos o
sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo
vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando
todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios,
protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho
spiritual negro:
"Livre afinal, livre afinal.
Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres
afinal."