sábado, 4 de abril de 2015

IGREJA REALIZA VIA CRUCIS NO COSTA AZUL


Nossa Igreja, com a participação de alguns moradores, apresentará a Via Crucis na Comunidade Recanto Feliz, percorrendo parte da Rua Desembargador Manoel Pereira. Neste mesmo local, a IBCA mantém a EBD Infantil e a Oficina de Flauta, destinadas às crianças das comunidades Recanto Feliz e Paraíso Azul.

Data: 05/04/2015
Hora: A partir das 16h00
Local: Início na Rua Desembargador Manoel Pereira e encerramento na Rua Paraíso

Ore por esta iniciativa e participe!

JOVEM INOCENTE É MORTO POR MILITARES EM PLENA PÁSCOA: O CRIME TEVE O AVAL DAS AUTORIDADES E DA SOCIEDADE

Ilustração publicada em http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2015/04/03/no-complexo-do-alemao-pascoa-tem-morte-sem-ressurreicao/

Pr. Idenilton Barbosa

Não seria de admirar se esta manchete aparecesse estampada nas capas dos jornais de hoje, a não ser por admitir a cumplicidade das autoridades e da sociedade. Mesmo porque, independentemente de ser ou não noticiado desta forma, a morte de jovens causada por aqueles que deveriam defender suas vidas, lamentavelmente tem se tornado um fato corriqueiro. E o que é pior, as autoridades e grande parte da sociedade não têm feito nada de muito efetivo para frear essa sanha. Pior ainda, a atitude mais repetida é a de apoiar os agentes destes atos de barbárie e de culpar as verdadeiras vítimas.

Ah, também querem colocar em vigor uma “brilhante” ideia que promete acabar com todos os casos de violência: a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Definitivamente, avalizam o extermínio da juventude, quer seja pelas execuções sumárias nos becos da cidade – que já estão em vigor, quer seja por jogar nossas crianças nos depósitos de gente, que são nossas cadeias e presídios, ainda em debate na Câmara dos Deputados. Dizem as pesquisas com forte apoio da sociedade brasileira, que tem se notabilizado por reproduzir o famigerado discurso destruidor das elites opressoras. Nos grandes temas nacionais, elas apregoam o sacrifício da vaca como solução para a chaga que esta tem. Não tem mais jeito para a Petrobrás, vamos vendê-la por bagatela! Não tem mais jeito para a violência infanto-juvenil, vamos responsabilizar esses adolescentes! Não tem mais jeito para a juventude negra da periferia – “só tem traficante!”, vamos exterminá-la!

Mas é preciso contrariar essa lógica do sacrifício, como um sacrifício histórico, muitas vezes negado pela incredulidade e muitas vezes descrido pela negação de muitos que discursam equivocadamente em seu favor, nos ensina. Diante dos descaminhos humanos, Jesus decidiu assumir a culpa e sofrer a pena. Ao invés de lavar as mãos, sujou todo o corpo com seu próprio sangue. Ao invés de impetrar maldição, se fez maldição por nós. Podendo exterminar os pecadores, suplicou perdão para os pecados alheios como se fossem seus. Ao contrário de excluir a quem quer que fosse, acolheu a todos e de maneira especial aqueles que a sociedade do seu tempo renegava. Foi amável, afável e comprometido com os excluídos, mas foi duro, incisivo e intransigente com os religiosos hipócritas. Diante da ameaça de extermínio da vida humana, ele lançou o desafio da vida, por meio da fé humilde, amorosa e operante.

Muitos têm interesse em que estas lições sejam esquecidas, desconsideradas ou ridicularizadas, sob a falsa informação de que a mensagem da cruz disseminou a exclusão, a opressão, o preconceito e a discriminação ao longo da história. Esse discurso, inclusive muito presente nos meios acadêmicos, em alguns casos, é fruto da ignorância e parcialidade em relação aos ensinamentos do Filho de Deus, manifestadas pelos pós-letrados que, sem o devido conhecimento do tema, arvoram-se a discuti-lo como se nele fossem especialistas; em outros, originados nos relatos dos equívocos cometidos pelos autointitulados porta-vozes do calvário, de ontem e de hoje, muitos dos quais mais afeitos aos bens deste mundo do que aos da eternidade; outros desqualificam a mensagem do crucificado, apenas pelas inegáveis contradições inerentes a todo ser humano, a que todos estamos sujeitos, mesmo aqueles que são sinceros no exercício da fé cristã, tal como revelada pelo Salvador.

O grande problema é que, ao desqualificar a mensagem da cruz sem separar trigo de joio, além de, em certo sentido, repetir a atitude dos algozes de Jesus e de avalizar a injustiça perpetrada desde o primeiro século, também tenta-se neutralizar uma das mais poderosas armas contra a opressão, a discriminação, a violência, o desamor, que é a prática da vida em comunidade, conforme Jesus demonstrou. É um erro confundir os ensinos de Jesus com as práticas pós-apostólicas, a partir de Constantino, ou com as resoluções, decretos e dogmas deliberados nos concílios, como se estes fossem infalíveis. É um grande equívoco misturar as declarações das Escrituras com interpretações, popularizadas por grupos ou indivíduos, que não resistem ao menor dos princípios de hermenêutica ou de exegese. Chega a ser irresponsável reduzir o cristianismo aos grupos criados com base e em torno da personalidade de seus líderes, diante da enorme diversidade de expressões da fé em Cristo.

O grande desafio que me imponho nestes tempos tão difíceis é o de reafirmar a minha fé em Jesus Cristo como o Deus-homem, e por isso, divino e humano, que interferiu na História para transformá-la em todas as suas dimensões e o de vivenciar esta fé de maneira compromissada com os homens, mulheres, jovens e crianças do meu tempo, procurando lutar pelo atendimento de suas necessidades espirituais, físicas e sociais, a partir dos contextos humanos em que estou inserido. Faço esta afirmação como quem compreende que somente com o envolvimento com as demandas por justiça social do meu tempo é possível me aproximar do cumprimento da amorosa vontade de Deus. Defendo que o contrário disso é ser conivente, cúmplice e avalista de tudo que condenamos em nossos discursos. Não é uma tarefa fácil, mas não há como proclamar a mensagem verdadeira da morte e ressurreição de Jesus, sem trabalhar, ainda que infimamente, pela justiça social que, entre outras coisas, não admite o extermínio da nossa juventude.


Leia na Bíblia: Mateus 27; Lucas 23.34; João 8.1-11; João 10.10; II Coríntios 5.17-21; Gálatas 3.13; Gálatas 6.9-10; I João 1.7; Tiago 4.17; Mateus 25.31-46.