sábado, 5 de maio de 2012

PASTORAL


O SINAL DA CRUZ
Pr. Idenilton Barbosa

Alguns ramos da cristandade, principalmente católicos, têm como hábito representar o formato da cruz, por meio de um gestual conhecido como sinal da cruz. Há muitas controvérsias quanto à origem dessa prática, mas alguns historiadores afirmam que ela surgiu entre o final do Século II e início do Século III. O objetivo, dizem os defensores e praticantes, é basicamente, relembrar e anunciar que os cristãos vivem sob a obra de salvação realizada por Cristo na cruz. Como muitas outras práticas do período pós-apóstólico, esta também foi ritualizada e ganhou ares supersticiosos, sendo atribuído ao gesto poder de proteção e passando a ser usado indiscriminadamente, nas mais diversas situações.

Sob o ponto de vista bíblico, não há base alguma para a prática do referido ritual. Entretanto, as Escrituras do Novo Testamento reiteradamente se referem à cruz para significar o sacrifício que Jesus fez por nós e os desdobramentos da sua obra redentora realizada em nosso favor, em nossa experiência diária. O sinal da cruz encontrado na Palavra de Deus, portanto, não é um gestual apoteótico ou coreográfico, mas os efeitos da morte de Jesus.

De acordo com este entendimento, podemos afirmar, primeiramente, que a cruz sinaliza o rompimento com o atual sistema de valores mundanos, conforme Paulo expressa: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6.14). A aceitação do sacrifício de Cristo implica no abandono do estilo de vida determinado pela natureza e práticas pecaminosas. No mesmo capítulo, aprendemos ainda, que pela cruz de Cristo somos livres do mero ritualismo para experimentarmos novidade de vida, a partir da regeneração. O apóstolo mostra que, afinal, ser uma nova criatura é o que importa (v. 15).

Além disso, estar sob os efeitos da cruz de Cristo significa uma identificação com o próprio Cristo e com a comunidade gerada por ele. A fé no Cristo crucificado e ressurreto levá-nos a carregar na vida “as marcas de Jesus” - que, no caso de Paulo, eram marcas físicas mesmo, fruto das muitas torturas sofridas por ele (Gl 5.17) e associa-nos com todos os outros que “andam conforme esta norma”, o “Israel de Deus” (v. 16). O sinal da cruz aponta para o fato de que a vida cristã constitui-se de um relacionamento individual com Cristo e comunitário com os nossos irmãos.