O SINAL DA CRUZ
Pr. Idenilton Barbosa
Alguns ramos da cristandade, principalmente católicos, têm como
hábito representar o formato da cruz, por meio de um gestual conhecido como
sinal da cruz. Há muitas controvérsias quanto à origem dessa prática, mas
alguns historiadores afirmam que ela surgiu entre o final do Século II e início
do Século III. O objetivo, dizem os defensores e praticantes, é basicamente,
relembrar e anunciar que os cristãos vivem sob a obra de salvação realizada por
Cristo na cruz. Como muitas outras práticas do período pós-apóstólico, esta
também foi ritualizada e ganhou ares supersticiosos, sendo atribuído ao gesto
poder de proteção e passando a ser usado indiscriminadamente, nas mais diversas
situações.
Sob o ponto de vista bíblico, não há base
alguma para a prática do referido ritual. Entretanto, as Escrituras do Novo Testamento
reiteradamente se referem à cruz para significar o sacrifício que Jesus fez por
nós e os desdobramentos da sua obra redentora realizada em nosso favor, em
nossa experiência diária. O sinal da cruz encontrado na Palavra de Deus,
portanto, não é um gestual apoteótico ou coreográfico, mas os efeitos da morte
de Jesus.
De acordo com este entendimento, podemos
afirmar, primeiramente, que a cruz sinaliza o rompimento com o atual sistema de
valores mundanos, conforme Paulo expressa: “Mas longe esteja de mim gloriar-me,
a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6.14). A aceitação do sacrifício de
Cristo implica no abandono do estilo de vida determinado pela natureza e
práticas pecaminosas. No mesmo capítulo, aprendemos ainda, que pela cruz de
Cristo somos livres do mero ritualismo para experimentarmos novidade de vida, a
partir da regeneração. O apóstolo mostra que, afinal, ser uma nova criatura é o
que importa (v. 15).
Além disso, estar sob os efeitos da cruz de Cristo significa uma
identificação com o próprio Cristo e com a comunidade gerada por ele. A fé no
Cristo crucificado e ressurreto levá-nos a carregar na vida “as marcas de Jesus”
- que, no caso de Paulo, eram marcas físicas mesmo, fruto das muitas torturas
sofridas por ele (Gl 5.17) e associa-nos com todos os outros que “andam
conforme esta norma”, o “Israel de Deus” (v. 16). O sinal da cruz aponta para o
fato de que a vida cristã constitui-se de um relacionamento individual com
Cristo e comunitário com os nossos irmãos.